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Mia Couto lançará em 2023 novo livro de contos

Um dos principais autores do continente africano, Antônio Emílio Leite Couto, o Mia Couto, vai lançar no Brasil, no segundo semestre deste ano, As Pequenas Doenças da Eternidade, um livro de contos que tem relação com a pandemia de covid-19 e com a infância do autor na cidade de Beira, a quarta maior de Moçambique.

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Com mais de 30 livros publicados e editados em mais de 30 países, Mia participou, na tarde desta quarta-feira (12), da edição de abril do Clube de Leitura no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). O debate sobre literatura segue até dezembro, com novos convidados, sempre na segunda quarta-feira do mês. A entrada é de graça e pode ser agendada pelo site bb.com.br/cultura.

Entrevista

Em entrevista à TV Brasil, o autor, que já recebeu dezenas de prêmios, incluindo o Camões, o maior da literatura em língua portuguesa, e o Neustadt, considerado o Nobel norte-americano de literatura, elogiou a produção literária brasileira e falou sobre a importância de Jorge Amado para os países da África lusófona.

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Mia vivenciou a Guerra Civil de Moçambique, conflito armado que começou em 1977, após a independência do país africano de Portugal. Durante quase 16 anos, a guerra deixou cerca de 1 milhão de mortos em combate e por conta da fome. Segundo a Agência da ONU para Refugiados (Acnur), mais de 8 milhões de pessoas fugiram do país no período.

Trechos da entrevista

TV Brasil: Conte um pouco sobre seu novo livro As Pequenas Doenças da Eternidade:
Mia Couto: É um livro que vai buscar contos que já foram publicados em Portugal com o título O Caçador de Elefantes Invisíveis. O que eu fiz foi retomar uma parte desses contos e depois somei outros 12, 14 contos neste formato. A pandemia da covid-19 está presente em cinco, seis histórias. Não a doença em si, mas a maneira como essa pandemia foi percebida em Moçambique, e de que modo os moçambicanos olharam e não se deixaram intimidar. Essas apreciações diferentes do que é o mundo invisível para a medicina moderna e para os moçambicanos rurais, onde a invisibilidade é comum. Mas o livro também tem a ver com a história da minha infância, em momentos com a minha mãe, onde eu construía uma espécie de eternidade para que aquele momento fosse guardado no tempo.   

TV Brasil: O que te inspira a escrever?
Mia Couto: É uma maneira de encontrar os outros dentro de mim. Quando eu escrevo sobre uma mulher, essa escrita só é verdadeira se ela essa mulher existe dentro de mim. 

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TV Brasil: A sua obra abrange diversos gêneros, como contos, crônicas e romances. Tem alguma preferência?
Mia Couto: A minha casa é a poesia. Depois eu saio, vou visitando outros territórios. Mas onde eu vivo, onde eu onde eu me sinto à vontade, é na poesia.  

TV Brasil: Por que Moçambique é uma terra sonâmbula?
Mia Couto: Porque é um processo histórico muito longo que nós só começamos, que é criar uma nação a partir de nações historicamente antigas. E fazer com que essas nações possam viajar entre línguas diferentes, entre culturas, religiosidades diferentes que existem em Moçambique. O país tem 30 línguas vivas diferentes do português. E que são as línguas principais da comunicação. São as línguas faladas no cotidiano. E como costurar tudo isso? Existe uma espécie não exatamente de sonambulismo, mas uma espécie de viagem permanente entre entidades diversas.

TV Brasil: De que forma a literatura pode contribuir para a paz?
Mia Couto: Quem lê percebe que dentro deles estão aqueles personagens todos incluindo esse inimigo que pode surgir numa história de uma guerra. E, se a gente construir essa história de forma humana, eu acho que a literatura tem esse papel de humanizar o outro, mesmo que o outro seja um adversário, seja um inimigo. A guerra começa antes do primeiro disparo, a guerra começa nesse processo de humanização do outro, e a literatura é uma forte resistência contra esse processo de desumanizar o outro.        

Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

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